Apenas um homem supérfluo.
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O-solitario-existencialista - Tumblr Blog
Imaginar que minha vida poderia ter sido diferente, de nada adianta. No máximo o que se ganha é auto tortura. Às vezes precisamos tomar decisões que mudam abruptamente nossas vidas.
Preciso urgentemente da minha independência, não há mais condições de permanecer dessa forma. Tenho muitos arrependimentos, talvez eu devesse ter me esforçado mais para alcançar isso. Mas o que importa realmente, é o que posso fazer agora.
"Nosso homem supérfluo era o único que sentia o nada palpitar em seu coração. O niilismo tem múltiplas formas, uma delas é a verdade silenciosa que tememos ser a única narrativa da vida que não seja uma farsa: somos inúteis e, muitos de nós, sem nenhum talento especial. Esse comportamento facilmente pode nos levar a uma espécie de estoicismo miserável e antissocial (...)"
Luiz Felipe Pondé - ERA DO NIILISMO
A tristeza pode se tornar um vício, ao se conviver muito tempo com ela, a tristeza se torna uma companhia constante. Ao longo desses anos, eu desenvolvi uma espécie de gozo autodestrutivo nesse sentimento.
Minha percepção foi se tornando negativa, fui acometido por uma espécie de ceticismo antropológico visceral. Em outras palavras, minha capacidade de confiar no outro quase não existe.
A tristeza é uma grande companheira, sua lente me faz ver a miséria do mundo, e sobretudo, minha própria miséria.
Essa mesma tristeza desenvolveu um niilismo destrutivo, onde nada mais faz sentido. Assim fui vendo as diferentes esperanças se tornando um sonho utópico.
Jean-Paul Sartre
Série - Vikings
Hoje a procrastinação está infernal!
Não sou uma boa pessoa, só não quero ser um filho da puta.
Tive muitos pensamentos sobre esperança e desespero nas últimas duas semanas, psicologicamente, é como se estivesse em um mar escuro, sem ondas, sem temperatura, sem vista à frente. Mas eu não quero perecer aqui, vou apostar na esperança. Não em um idealismo triste, mas naquilo de concreto que já se apresenta a mim. Eu quero viver da maneira que escolhi viver.
Esse desânimo que sinto é o resultado de muitos aspectos ao longo da minha vida, dos traumas de infância, das responsabilidades e pressões da vida adulta, da dor da perda, das desilusões amorosas, da falta, dos vícios, e das espectativas que empomho a mim mesmo.
O que vivo agora não é exatamente o que imaginei, mas dessa situação irei usufruir do melhor aqui em mãos. Enquanto ao futuro próximo e até longínquo, eu aposto na esperança, na capacidade de resistir, e também naquilo que considero precioso e acredito. Por isso desistir não é uma opção.
Diferente do que muitos acham, o niilismo não é simplesmente uma posição filosófica, mas é também um estado psicológico, para outros é uma doença espiritual, uma doença da modernidade.
Nos últimos 7 anos, depois que perdi minha mãe, o niilismo vem se agravando dentro de mim, aquilo que parecia fazer sentido já não faz mais. Antes a cosmovisão cristã era o suficiente para dar conta de explicar todos os aspectos da vida, dando sentido para o sofrimento, as faltas e as angústias da vida eram justificadas nessa cosmovisão. Mas agora, nada faz sentido, e o niilismo me levou a um estado melancólico miserável.
Aos poucos vou perdendo o interesse em tudo, já não tenho mais ânimo, parece que as esperanças metafísicas morreram. A ideia da busca pela felicidade me parece uma tortura infernal, uma forma de desespero que atormenta as almas. O universo é silencioso e frio. Minha face é invisível, um rosto medíocre que perambula na condição de objeto irrelevante da natureza.
O amor romântico me parece um conto de fadas, como histórias folclóricas que entretém os corações aventureiros dos jovens, e que trás afago aos corações dos velhos em um mundo injusto como o nosso.
Falando em injustiças, nós humanos somos recordistas em fabricar injustiças, desde as desigualdades cruéis das classes, até dos indivíduos considerados supérfluos segundo os padrões vigentes da sociedade. Enquanto as elites brasileiras se deleitam em seus privilégios, os mais pobres e demais vulneráveis são massacrados pelas condições que o sistema lhes proporciona.
Pessoas que não se adequam aos padrões de beleza, homens e mulheres pobres que têm apenas esforço e um sonho nas mãos. Aqueles que não são convenientes são invisíveis. É o que sobra aos marginalizados, ou considerados menos importantes na nossa contemporânea sociedade do espetáculo.
Da crueldade dos humanos para com seus semelhantes, até o desesperador furor da natureza, tudo me leva ao mais profundo niilismo. Em mim não há fé na ciência, nem na teleologia histórica, na escatologia do progresso humanista, na perfectibilidade da espécie como um todo no quesito moral. Nem mesmo nas mais diversas narrativas religiosas, que justificam nos seus respectivos Telos, o sentido de toda a existência. Para mim, talvez as grandes metanarrativas, façam-nos destruirmos uns aos outros, justificadas em nome do bem, em nome do summum bonum.
Minha visão niilista é voltada para o mundo como um todo, mas também resultado de alguém que perdeu o encanto por muitas coisas no particular, que entendeu a capacidade das pessoas de serem más, as experiências me fizeram olhar a dimensão negativa da vida, onde tudo se quebra, em sua fragilidade. A verdade é que falhei em muitas coisas, em outras fui surpreendido, com a hipocrisia e a maldade de todos, com a minha própria hipocrisia e capacidade de fazer mal também.
Mas mesmo desencantado com a humanidade, com alguns aspectos da vida, com a sociedade em suas opressões viscerais e com as injustiças, também fui capaz de ver a beleza no mundo, e foi daí que me veio a capacidade de ter esperança onde habitava o desespero. A vida é um milagre diário, pois se nossas frágeis existências finitas estão à mercê de uma contingência assustadora, onde a morte pode nos encontrar facilmente em qualquer lugar, é somente um milagre que explica a nossa sobrevivência diária, é aí onde eu vejo a graça dada por Deus, onde no desespero desse mundo, em meio ao caos, sinto que estou diante da misericórdia. Soa contraditório, alguém de fortes traços niilistas, de cunho pessimista, com uma cosmovisão que vê a existência como um absurdo, ter algum espaço para fé. Na verdade, isso é realmente contraditório, sou humano como qualquer outro, cheio de contradições e incongruências.
Nesse sentido, me identifico um pouco como Cioran, um filósofo profundamente pessimista e niilista, que segundo ele mesmo, se via "visitado pela graça", quando via generosidade, bondade e esperança. Segundo o mesmo autor, a beleza é o espaço onde habita o milagre, em mundo onde diariamente nossas esperanças são esmagadas.
Depois de tantos anos, ainda pondero: não é a morte que me assusta, mas o receio de não ter vivido.
— de mim para meu eu interior.
O que as pessoas mais desejam é alguém que as escute de forma calma e tranquila. Em silencio. Sem dar conselhos. Sem que digam: "Se eu fosse você". A gente ama não a pessoa que fala bonito. É a pessoa que escuta bonito. A fala só é bonita quando vem de uma longa e silenciosa escuta. É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção.
Tenho muitos arrependimentos, escolhas que fiz, e as que deixei de fazer. Me pergunto, se eu tivesse me esforçado mais, os rumos de hoje seriam melhores? Os momentos de impulsividade tiveram um resultado decisivo.
Quero ser melhor, um homem melhor, não para os outros, mas para mim mesmo. Gostaria de ser mais motivado, mais racional, mais frio nas decisões. Pois com impulsividade, pensar com as entranhas, ou com o coração, na maior parte do tempo tem condicionado aos piores resultados. Não atoa, essa é uma das grandes tristezas do meu coração.
Pessoas vazias fazem muito barulho.
@sobmeuolhar
Fiódor Dostoiévski - O Sonho De Um Homem Ridículo
(...) Há um único recanto do universo que podemos ter certeza de melhorar: o nosso próprio eu
— Aldous Huxley, no livro "O Tempo Deve Parar".
Precisamos exorcizar sentimentos guardados, sentimentos que nos corrói. Para que nossa alma tenha paz, precisamos nos expressar, das formas mais criativas que pudermos.
(...) Comecei a sentir, logo cedo, certa sensação de solidão, que, por sua vez, despertaria em mim um desassossego. Sua influência, que correspondia ao que a natureza havia encerrado em mim de gravidade e apreensão, logo se faria evidente, pronunciando-se ainda mais decisivamente com o passar dos anos.
— Johann W. Goethe, no livro "De minha vida: Poesia e Verdade".
O homem negro só é valorizado quando corresponde aos esteriótipos sexualizado da sociedade. Se fala muito da solidão da mulher negra, o que é perfeitamente compreensível, é uma realidade que muitas delas enfrentam, quando não correspondem aos fetiches remetentes à indústria pornográfica, são totalmente apagadas.
Mas é necessário reconhecer também, a solidão dos homens negros (nas suas variadas tonalidades), sobretudo aqueles que não correspondem aos esteriótipos fálicos, e que não tem o corpo atlético que se atribuí aos mesmos (muito desse imaginário vem da teoria eugenista, também conhecido como racismo científico, que entendia que negros tinham mais aptidões físicas, porém, inferiores no aspecto cognitivo aos brancos), esses homens são tão invisíveis quanto a mulher negra fora do padrão sexualizado.
Na sua maioria homens da periferia, lutando para vencer a sua própria realidade, mas com seus rostos apagados. Quando não são reduzidos a um fetiche sexual, viram "mascotes" de partidos políticos de todas as matrizes ideológicas, e de políticos cretinos que usam sua imagem como capital político. A verdade é que maioria desses homens negros, segundo o perfil que mencionei, são invisíveis.
A luta contra minha mente é diária. Sou um sobrevivente. Continuo a apostar na esperança.
"Seria a existência nosso exílio e o vazio a nossa pátria?"
Emil Cioran